Médico doutor em ciências humanas, José Pedro Gonçalves lança livro sobre o Distrito de Bauxi

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+ Cotidiano
Sexta, 08 Setembro 2017 | RDnews
O doutor José Pedro Rodrigues Gonçalves é um médico incomum não só porque tem mesmo o título a que todo ser humano bacharelado em ciências médicas carrega a despeito de ter feito ou não um doutorado por dois motivos. Primeiro porque ele é doutor sim, mas em ciências humanas (depois de ter feito um mestrado em sociologia política); segundo porque decidiu retornar às cadeiras de faculdade após os 60 anos e uma vida inteira dedicada à saúde pública, nos postos de saúde da periferia de Cuiabá.
Todas as intermitências a que a própria experiência obriga, para serem buscadas depois em forma de sentimentos, acabaram por acumular-se em sua mente, como memória, até serem recuperadas e condensadas no livro Bauxi, o segundo da carreira do doutor Zé Pedro. O lançamento acontece na quarta (13), a partir das 19h30, na Livraria Janina do Pantanal Shopping.
O título do livro é homônimo da localidade onde o escritor nasceu, a Fazenda Retiro de Bauxi (hoje Distrito de Bauxi, em Rosário Oeste), de propriedade do avô. Começou a escrever assim que foi alfabetizado, na Escola Modelo Barão de Melgaço, em Cuiabá, e depois no Colégio Estadual de Mato Grosso.
Um tempo bastante rico na formação da memória, como sempre há de ser em toda a juventude de qualquer ser humano. Atrás daqueles dias, o escritor decidiu fiar-se no método aprendido tanto nas faculdades de medicina (ele é cardiologista) quanto de ciências sociais. Assim, procurou sorver não só o sabor dos acontecimentos de acordo com o gosto apresentado pelo seu cérebro, mas buscou opor amargo e doce nas fundamentações ora documentais ora encontradas nos depoimentos de contemporâneos e mais velhos.
Esse novelo de vivências, entendimento próprio acerca do tempo decorrido e a luta contra os desgastes das lembranças foram como que, pode-se dizer, fundamentados de maneira quase metodológica, pois é bem mais difícil uma memória estar errada quando ela é coletiva. E foi por esse caminho de coletividade que doutor Zé Pedro buscou caminhar, segundo a assessoria da sua editora.
“Traçou quase que um percurso metodológico para embasar as suas memórias e reflexões. Dedicou longas horas em conversas, trocas de informações e experiências com familiares, principalmente os mais idosos, que se deliciaram ao relembrar aqueles tempos”. Também buscou em livros e dicionários nacionais, portugueses, espanhóis e indígenas o significado de palavras, objetos, costumes e lendas, tudo a ser condensado dentro da narrativa elaborada ao longo de dois anos.
Esse quadro mnemônico acabou por utilizar cores, tons e a historiografia dos costumes socioculturais de Mato Grosso, sempre cindido entre o existir rural e urbano, especialmente naquele meio de século 20, quando a população da capital, por exemplo, não chegava à metade da de hoje.
“O novelo de vivências, entendimento próprio acerca do tempo decorrido e a luta contra os desgastes das lembranças foram como que fundamentados de maneira quase metodológica”
“Saí para estudar no Rio de Janeiro, na Faculdade de Ciências Médicas da, então, Universidade do Estado da Guanabara (UEG), hoje UERJ. Retornei a Cuiabá, onde vivi até final de 2005. Logo depois, me aposentei como médico da secretaria de Estado de Saúde (SES)”, conta ao  por email. “Retornei, então, aos bancos da academia para cursar mestrado em Sociologia Política e depois doutorado em Ciências Humanas, na Universidade Federal de Santa Catarina”.
O primeiro livro do médico, Tragicomédicas, foi uma coletânea de crônicas que resgatavam uma parte da vida dele como estudante de medicina e, depois, como médico em Cuiabá, militando entre política médica, política de saúde e vivenciando o cuidado com populações carentes nas periferias de Cuiabá. Eram, nas palavras do escritor, “tragédias cômicas e as comédias trágicas de minha vida na medicina. Foi lançado em Cuiabá, no ano passado e todos os direitos autorais foram doados integralmente ao Hospital do Câncer de Mato Grosso”.
Dono de um currículo acadêmico bastante vasto, doutor Zé Pedro continua um leitor acima de tudo, porém agora tem mais tempo para se dedicar a escrever o que melhor lhe aprouver, e nisso entram, além dos textos científicos, memórias e poesias. Sua morada hoje é dividia em duas cidades: “Continuo vivendo em Cuiabá, intercalando com Florianópolis, onde encontrei o espaço adequado para ampliar meus horizontes intelectuais”, explica.
Agora, o médico e escritor pretende dedicar-se mais à carreira literária, além das poesias, tem uma trilogia pronta e trabalha em mais dois livros: a tese de doutorado, “que estou amenizando a quase fria linguagem acadêmica para torná-la mais suave e adequada para que seja lida com mais sabor” e outro de ficção.
Cardiologista, José Pedro trabalhou com saúde pública até aposentadoria. Agora, só escrita
“Escrever é conversar com quem não se conhece e dizer verdadeiramente o que se sente, quando se tem algo a dizer e que possa ser útil. Isto, necessariamente deve ser levado ao conhecimento de todos os que se interessam em saber alguma coisa a mais. Como costumo dizer, aquele que se contenta com o que sabe, nunca passará do que é”, considera Zé Pedro sobre suas motivações para a escrita.
Sobre porquê escreveu Bauxi, o médico diz ser uma necessidade de guardar uma parte da cultura rural de Mato Grosso, que está se perdendo em função da modernidade tardia, que destrói as tradições logo substituídas por conhecimentos ditos científicos, “mas, muitas vezes, são imposições da mão invisível – o mercado”.
Nesse caminho, seu próximo livro, Lavapés, a sair em 2018, busca recuperar os personagens reais do lugar onde ele viveu em Cuiabá e cujas existências e personalidades algumas vezes são deturpadas pelo “ouvi dizer”. “Quero falar dos seres humanos que viveram e ainda vivem lá, na comemoração dos 300 anos de Cuiabá”.
 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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