Missionária mato-grossense muda realidade de adolescentes na Tanzânia com projeto social

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+ Cotidiano
Segunda, 12 Dezembro 2022 | GazetaDigital
A mato-grossense Ironi Ribeiro Sumary, após se aposentar como papiloscopista do Instituto Médico Legal (IML) e virar missionária, decidiu colocar sua fé em prática e se mudou para a Tanzânia, na África. Na comunidade onde vive há mais de oito anos, ela ensina meninas e adolescentes vítimas de abuso a costurar, ação que as tem livrado dos tradicionais casamentos arranjados. A história de Ironi foi destaque no programa Globo Repórter, da TV Globo, na noite de sexta-feira (9).
O projeto de Ironi tem se tornando destaque também nas redes sociais, onde ela relata o dia a dia das ações sociais que desenvolveu na Tanzânia e onde conta sua história. Nascida em Rondonópolis (220 km de Cuiabá), cursou História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Passou em um concurso no IML, onde trabalhou por 30 anos, até se aposentar.
“Fui papiloscopista por mais de 30 anos e trabalhei no governo de Mato Grosso, dos quais 15 anos dentro do IML. Lidei com mortes violentas, violência contra a mulher, abuso sexual contra crianças entre outras barbaridades que o ser humano é capaz de fazer. Eu mesma, aos 11 anos de idade, fui estuprada e carreguei este trauma por toda uma vida me impossibilitando de ter relacionamentos profundos até Jesus me libertar desta dor na alma. Há 12 anos me tornei cristã e costumo dizer que ‘recebi uma ordem e obedeci’. Esta ordem era o “IDE por todo o Mundo e pregar o Evangelho a toda criatura” e me preparei para quando chegasse o momento eu pudesse cumprir a ordem. Fiz cursos de Teologia e Pós-graduação em Missiologia”, conta ela, na rede social.
Em 2010, durante os estudos na Escola de Missões, quando conheceu um garoto do Sudão do Sul, órfão, havia vivido os horrores da guerra e fora recolhido por uma missão brasileira que havia no Quênia. Naquela época, já tinha uma menina também adotiva e acabou adotando o garoto. Ela conta que, ao terminar o curso, tinha que passar três meses no Campo Missionário e decidiu passar esse tempo no Quênia.
“Nesse tempo, só confirmou em meu coração que realmente meu lugar era na África. Voltei ao Brasil pesarosa, mas eu precisava concluir meu tempo de serviço para me aposentar. Em 2013, me aposentei, doei tudo que tínhamos na nossa casa e viemos embora. Morei seis meses no Quênia, mas fui roubada pela pessoa que se comprometeu com o visto de residente e tive que sair do país para renovar o visto de turismo. E, ao retornar, não pudemos renovar nossos vistos porque havia uma nova lei no país, então eu e minha filha fomos deportadas, proibidas de retornar para casa e perdemos tudo que tínhamos. Eu não decidi vir para a Tanzânia, foram as circunstâncias, mas aqui começamos um novo projeto voltado para adolescentes e jovens em situação de risco, o único projeto nesta área aqui em Arusha”, relata.
Na Tanzânia, a sociedade ainda é dominada por homens e as mulheres enfrentam cruéis tradições da opressão masculina, como a violência sexual. O atual governo já se comprometeu com organismos internacionais a dar apoio a mulheres e combater violência de gênero. Algumas práticas são crimes, mas ainda são encontradas em áreas remotas.
Ironi, então, criou o Projeto Nyumba ya Bibi Sebastiana, casa Abrigo e Escola Profissionalizante, onde ensina meninas e adolescentes da tribo Massai a costurar.
Ela conta que as meninas massai, a partir do momento que menstruam, por volta dos 12 anos, já são oferecidas em casamento para homens muito mais velhos. Geralmente, são casamentos arranjados pelos pais em troca de dinheiro, mantimentos ou gado.
Em seu projeto com as meninas da tribo Massai, ela ajuda as famílias a ter uma renda através da costura, para que as adolescentes não sejam forçadas a se casar para que os pais recebam "pagamentos" em troca das filhas.
Ironi conversa com as famílias, tentando convencer a permitir que as meninas façam o curso, que dura cerca de dois anos, e argumenta explicando os ganhos que elas terão com o próprio trabalho.
"Eu perguntei: ‘quantos cabritos o senhor vai pegar por essa menina? ’ Ele falou: ‘nós vamos pegar 3 cabritos’. ‘Com a máquina de costura, ela pode comprar um cabrito para você por mês, o que você prefere’. Então a gente tira da aldeia, traz para cá, estuda corte e costura. Quando ela volta, ela já começa a ganhar dinheiro", contou ela à reportagem do Globo Repórter.
"E as filhas delas terão uma vida melhor que elas. Porque elas vão ter dinheiro para colocar os filhos, as filhas na escola", comemorou a aposentada sobre os resultados do projeto, que vão além do imediato.
A missionária conta que, no final de 2 anos, ela consegue recuperar de 20 a 40 meninas. Ironi depende de doações. Ela quer dar uma máquina de costura para todas as alunas. Além disso, a missionária ajuda outras comunidades com doações de alimentos. 
Quem desejar contribuir para projetos de sociais de Ironi na Tanzânia pode fazer doações através do PIX: (66) 99603 4267.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
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